domingo, 27 de abril de 2008

Nunca fui beijada

Por Patrícia Nakamura

Nem as torturantes aulas conseguiam sufocar aquele desejo latente por sexo sexo sexo sexo sexo sexo sexo sexo que os aborrescentes sentiam ao menor toque de pele alheia na aula de educação física. Ou a rara visão de pernas, braços, peitos e demais saliências, encobertos pelo castrador uniforme marrom.

Claro, comigo não foi diferente.

Ainda mais pra alguém que saiu de um colégio pequeno, de bairro _ onde você conhecia todo mundo e nenhum menino tinha graça _ para um colégio enorme, longe de casa e com todas as turmas estabelecidas.

Foi fascinante e assustador ao mesmo tempo. Meninos bonitos, disputados por meninas igualmente bonitas e encrenqueiras. E eu, uma forasteira, intelectualmente madura (segundo a psicóloga), mas uma banana no quesito pegação. Tinha dado meu primeiro beijo às vésperas da sétima série, que vacilona.

Mas era tanta novidade que eu deixei pra lá a beijação ampla, geral e irrestrita. E me joguei em tudo. Time de basquete? Arrecadação de tranqueira pra festa junina? Competição do quem-sabe-sabe? Equipe de corrida? Gincana no Eniac? Teatro? Fita K7 do New Order? Mula na goiabeira? Lá estava eu. E no meio de tanta baderna, fiz muitos, muitos amigos.

É óbvio que batia aquela angústia à vezes. “Por que não eu?” Não era assediada como as outras garotas. Também não tinha coragem de chegar junto. Tudo bem, pensava eu. Ta certo que eu mesma tinha surtos de baixa auto-estima: me considerava sem graça, tinha cabelo escorrido, aparelho nos dentes, era tagarela e metida a intelectualóide.

E é claro que uns e outros despertaram meu interesse na época. E a recíproca era verdadeira, fiquei sabendo anos mais tarde, quando o tesão já tinha se esvaído.

Uma vez, teve uma festa no Clube São Caetano. Metade da escola apareceu, junto com a outra metade do Jorge Street. Vi um menino magricela, ficou me olhando. Tomei coragem e encarei também. Do nada, veio o tal menino e me tascou o maior beijaço, no meio da pista.

Dias depois, fiquei sabendo que: 1- o autor do beijo era primo do Ricardo Coracin. 2 – Tratava-se de uma aposta, E tomara que eu tenha sido “apostada” por pelo menos R$ 100. 3 – Ganhei a pecha de piranha. Injustiça!

Bom, acabou a sétima série. Começamos a oitava.

E eu não tinha mais olhos para ninguém.

Caí de amores por um tal de Luciano, que só sabia me zoar. E andava com um tal de Gustavo, que contribuía na zombaria. Tava tão obcecada que também não peguei ninguém, acalentando um ideal romântico de namora-lo. Tolinha. Mais uma vez, fiquei na fila. Enquanto disso, dá-lhe mula na goiabeira, corrida, basquete, natação, quem-sabe-sabe.

No último dia de aula, tomei coragem e me declarei. E ele me deu o fora mais sincero e elegante que já tomei na vida. Ah, sabe o Gustavo? Então, esse se declarou pra mim. Fiquei tão atordoada que fui pro banheiro e fumei o primeiro cigarro da minha vida, doado por uma aluna do 2o grau.

No dia seguinte, Magic Club com uma galera. Caprichei na roupa nova. Tinha acabado de tirar o aparelho. Hoje! Prensei o Bira na parede com tanta força que até hoje ele deve ter perguntado quem foi o caminhão pipa que o atropelou.

Portanto, tecnicamente, passei incólume pelo 1o grau.

As férias passaram, chegou o segundo grau. Meninos antigos se misturavam com as carnes novas do pedaço. Mas aí a história foi outra, bem diferente...

E o Luciano?
Então, aproveitei as férias para refazer exames de visão. Miopia cavalar. Comecei a usar lentes. Dei de cara com ele no portão logo no primeiro dia de aula. Meu Deus, o amor é cego, mas a feiúra é de lascar. Hoje, agradeço aos céus por não ter trocado saliva com aquele exu-tranca rua...

Um comentário:

Anônimo disse...

Amiga...nunca foi beijada...mas quando saiu pro ataque...vamos combinar que se algumas coisas pudessem ser reveladas aqui, a geral ia cagar de rir...KKKKKKKKK... DOIDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA