Por Patrícia Nakamura
Uniforme marrom e tênis Jaguar deixavam todo mundo igual, certo?
Errado, porque sempre tem gente que era mais igual e tem gente que era menos igual.
Como assim, Bial?
Simples: na tenra adolescência, a gente queria mais é consumir modinhas. E, à medida que o orçamento da família permitia, íamos levando para a escola todas as manias, cafonices, tendências e tranqueiras da época. Acompanhe abaixo uma lista dos itens que a minha memória permite. Aposto que eu esqueci um montão. Portanto, não esqueça de completar!
Mochilas: Era um festival. Era fácil detectar quem tinha e quem não tinha dinheiro. Mochilas da Pakalolo, aquelas emborrachadas ou as de veludo compradas na “Destak” denotavam famílias abonadas. Quem não tinha grana ia mesmo de mochila “genérica” da Print Rip, ou aquelas de brinde da prefeitura, ou ainda, aquelas de jeans, que ficavam irremediavelmente encardidas com o tempo de uso. Volta e meia aparecia alguém com uma mochila de ursinho. Quem tinha uma?
Tênis: o Jaguar dava um chulé danado e era mega difícil de achar. O jeito era apelar. Minha mãe, aquela mão de vaca, comprou um tênis no DIC, bem vagabundo, que furou na altura do dedão com duas semanas de uso. E ela não se fez de rogada: tapou a cratera com silver tape e tive que segurar a onda por um tempão. Tinha gente que jogava os Rainha “Yatch” na tinta Guarani e o resultado era catastrófico.
Claro que tinha gente que levava os Cannon ou os Mad Rats (os ricos, claro; os pobrinhos usavam Kick) para usar longe da vigilância dos inspetores. Ah, os primeiros Nikes já pipocavam. E as imitações também. Tinha um coitado que ganhou o fofo apelido de "Nanaike" porque usava um tênis que tinham três símbolos da Nike sobrepostos!
Uniforme: O marrom do blusão não combinava de jeito nenhum com o tom da calça, por causa do tempo e das centenas de lavagens. E como estávamos em fase de crescimento (vertical e lateral), não era raro verificarmos a galera usando “calça de caçar frango”, camisetas furadas, blusões “o defunto era menor” e coisas agarradérrimas do tipo.
Ah, claro, havia a customização. Fiz “sem querer” um rombo na calça, na altura do joelho, e ganhei uma bermuda. O Ailton, muitos se lembram, retirava as mangas da camiseta. E dá-lhe calça arregaçada!
Meias: território 100% feminino. Foi naquela época que começou a moda das meias coloridas. Então, as negas dobravam as calças e deixavam à mostra parzinhos listrados, de estrelinhas, verdes, azuis, da Barbie, da Moranguinho... só para constar: a minha predileta era uma roxa, estampada com retalhinhos de festa junina. Tudo, claro, ORNANDO MAGISTRALMENTE com o tênis marrom.
Nécessaire: Como passávamos o dia todo na escola, todo mundo tinha uma bolsinha contendo pasta de dente, escova, pente, lencinho de papel e fio dental, certo? Mas tinha gente que sequer fazia um bochecho após as refeições. Mas nós, meninas, tínhamos um arsenal. Na minha, lembro de ter COLA PARA UNHA POSTIÇA, soro fisiológico, um frasco enorme de perfume da Boticário (o Thaty) e um espelho. Fora toda a maquiagem, que rivalizava com a maleta de tintas da professora de educação artística!
Tranqueiras: não, não eram brinquedos. Afinal, não éramos mais criancinhas! Lango-Lango, Pogobol, Murphy (aquele macaquinho fashion), ioiô... eram algumas das traquitanas que carregávamos às escondidas. Aí rolavam também coisas como baralho de tarô, revistas e mais revistas, walkman, anticoncepcional (para jogar no shampoo), caneta de vinte cores...
E aí? O que fazia sua cabeça na sétima série? Conta pra gente!